A partir de 2022, a Federação Paulista de Judô realizará os campeonatos do Hombu Dojô Budokan

Judocas perfilados na cerimônia de abertura do VIIº Torneio Anual de Judô da Budokan realizado em 1954 © Arquivo

No próximo ano a Budokan fará a 71ª edição do seu torneio anual, e a parceria com a FPJudô objetiva resgatar a importância histórica do mais tradicional evento de judô fora do Japão

Por FPJCOM
28 de dezembro de 2021 / São Paulo (SP)

Depois de renovar parcerias com patrocinadores neste fim de ano, Alessandro Panitz Puglia, presidente da FPJudô, anunciou parceria com o Hombu Dojô Budokan (HDB) para realizar a partir de 2022 o Torneio da Budokan, evento que está em sua 71ª edição.

“Vamos trabalhar lado a lado com a Budokan para realizar em São Paulo o maior e mais tradicional torneio de judô do mundo fora do Japão. Todas as regras estabelecidas por Ryuzo Ogawa serão mantidas e esperamos que seja um dos pontos mais altos da temporada de 2022, principalmente levando em consideração os dois anos muito difíceis que tivemos por conta da pandemia”, disse Puglia.

A FPJudô entrou em contato com Hitoshi e Hatiro Ogawa, dirigentes da entidade, para dar uma injeção de ânimo nas competições da modalidade e ao mesmo tempo resgatar o judô tradicional de São Paulo. O Torneio da Budokan constará no calendário oficial da federação como evento oficial e será uma colaboração anual entre as entidades.

Alessandro Panitz Puglia, Oscar Hitoshi Ogawa e Oswaldo Hatiro Ogawa © FPJCOM

A Budokan foi fundada pelo mestre Ryuzo Ogawa e vai comemorar 86 anos de existência em 2022. “Nós temos conhecimento da relevância histórica da nossa entidade na formação da base do judô brasileiro. Entre os muitos instrumentos utilizados nesse trabalho, nós temos o tradicional Torneio da Budokan que, no próximo ano, será realizado pela FPJudô, a entidade mais capacitada do ponto de vista administrativo e organizacional do País”, disse Oscar Hitoshi Ogawa, presidente do HDB.

O vice-presidente da Budokan, Hatiro Ogawa, mostrou-se muito otimista com a parceria para o torneio. “A Budokan mantém muitas tradições do século passado, e a federação achou interessante essa soma. Nós achamos isso fundamental por trazer a tradição de volta ao nosso convívio atual. Eu acho que vai ser uma iniciativa maravilhosa para o resgate do judô tradicional, porque estamos resgatando as raízes da modalidade. A proposta com esse evento é resgatar a tradição que ficou de lado no judô, que acabou se diluindo com o tempo.”

Um breve histórico da Budokan

Em 1934, Ryuzo Ogawa chegou ao Brasil com sua esposa, Toku Ogawa, e os familiares de seu irmão. Eles se radicaram no Vale do Ribeira, na cidade de Registro (SP) por dois anos e, lá, Ryuzo dava aulas de judô na colônia japonesa em que residia com um tatami improvisado feito de palha de milho coberta com lona, para os filhos dos conterrâneos. Em 1936 ele se mudou para São Paulo com o objetivo de prosperar enquanto professor e angariar mais alunos para suas aulas.

Mestre Ryuzo Ogawa, fundador do Hombu Dojô Budokan © Arquivo

Ryuzo Ogawa era praticante do estilo kashima-shin-yo-ryu, do jiu-jitsu, e alugou uma casa no bairro da Liberdade, mais precisamente na rua Conselheiro Furtado, onde criou a Academia de Jiu-Jitsu e Judô Ogawa. Após dois anos, mudou-se para a rua Doutor Tomaz de Lima, frequentada por diversos renomados professores que posteriormente fizeram suas próprias escolas.

“Chegou, porém, a Segunda Guerra Mundial, e os japoneses e seus descendentes eram vistos como suspeitos. Foi uma época muito difícil, porque atos inocentes como os praticados na academia eram vistos com maus olhos pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Ryuzo, inclusive, teve problemas porque foi denunciado por estar fazendo reuniões”, conta seu neto, Hatiro. “No caso, eram as aulas de judô. Ele deu aula de 1939 a 1946 com as portas praticamente fechadas, com pouquíssimos praticantes.” Entre os alunos mais célebres de Ryuzo é possível destacar Massao Shinohara, Nobuo Suga, Chico do Judô e Hikari Kurachi, nomes históricos no judô nacional.

O campeonato da Budokan começou a ser organizado no início da década de 1950 e, em sua primeira edição, reuniu de 30 a 40 competidores. Em 1951 o torneio realizou-se pela primeira vez com um número expressivo de participantes. Em 2021, a competição comemoraria 70 anos de história. Contudo, as celebrações foram reservadas para o ano seguinte.

Hitoshi e Hatiro Ogawa e Alessandro Puglia em seiza © FPJCOM

Após o falecimento de Ryuzo, que conquistara a graduação hachi-dan (8º dan), quem assumiu foi o pai de Hitoshi e Hatiro, Matsuo Ogawa. Ele chegou à graduação kyuu-dan (9º dan) antes de falecer, em 1976, quando Hitoshi assumiu a entidade. Hoje, Hatiro atua em conjunto com o irmão como vice-presidente.

“A Budokan sempre conseguiu administrar o judô de São Paulo porque era uma entidade com muitos professores e havia muita disciplina. Até a criação da FPJudô, em termos de organização de campeonatos e eventos, as competições da Budokan eram as mais importantes, como uma vitrine da modalidade”, contou Hatiro. “Desde 1958, quando foi criada a FPJudô, a Budokan respeita e trabalha em conjunto com a entidade.”

 

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