Apoio público e privado coloca a pequena Buri no mapa do judô do Estado de São Paulo

Sensei ni-dan Suzana Maria Rosa de Oliveira © Josy Ávila

Para destacar-se entre equipes de agremiações tradicionais do interior o Judô Buri conta com o trabalho incansável da sensei Suzana Maria Rosa de Oliveira

Por Paulo Pinto / FPJCOM
São Paulo 18 de outubro de 2022

No dia 27 de agosto, em Itapecerica da Serra (SP), 53 equipes de quatro delegacias regionais da Federação Paulista de Judô (FPJudô) disputaram um torneio para menores de 15 anos. Para surpresa de quase todo mundo, os representantes de Buri, pequena cidade com cerca de 20 mil habitantes, ficaram na terceira colocação, conquistando 13 medalhas, das quais duas de ouro, oito de prata e três de bronze.

Fundada em 1792 por portugueses naturais dos Açores, a pequena cidade de Buri, capital da amizade, fica no Sudoeste do Estado de São Paulo, a 270km da capital. Pertencente a Região de Itapeva, Buri é um dos 247 municípios os estados do Paraná e São Paulo que formam a bacia hidrográfica do Rio Paranapanema. No âmbito exclusivo da FPJudô a cidade pertence à 16ª Delegacia Regional Sul Itapeva.

Parte do grupo de apoiadores do Projeto Judô Ajuda, Gabriela Santos, Bernardete Reguini, Adilson Ferreira, Suzana Oliveira, Cristiano Ferreira Neto e Marcela Paiva © Josy Ávila

A garotada do Projeto Judô Ajuda de Buri mostra como é possível alcançar grandes resultados quando gente entusiasmada consegue apoio do poder público e recursos financeiros de cidadãos e empresas que acreditam no papel transformador do esporte. Estamos falando, particularmente, da sensei Suzana Maria Rosa de Oliveira, que convenceu desde o prefeito até os moradores e comerciantes de Buri a embarcarem nesse importante projeto.

“Com base em minha experiência de 37 anos nos tatamis, sempre falo aos meus alunos que, se eles querem alguma coisa na vida, têm de ir atrás e conquistar. Tudo depende unicamente da vontade, ou seja, da nossa atitude mental”, revela Suzana. Nascida em Capão Bonito, na região do Alto Paranapanema, numa família de poucos recursos, ela conheceu o judô ainda criança, mas foi também num projeto social, conduzido pelo sensei Émerson Eiki Goya, que ela se desenvolveu e começou a competir. “Serei eternamente grata a tudo que me foi proporcionado pelo sensei Goya, e quero oferecer à maior quantidade de crianças a mesma oportunidade e o mesmo caminho que recebi do meu querido professor.”

Germano Almeida Peschel, prefeito de Buri © Arquivo

Primeira mulher a representar sua cidade natal numa competição individual nos Jogos Abertos do Interior, Suzana, envergando um judogi azul doado e surrado, não se intimidou diante das adversárias bem vestidas, algumas vindas dos maiores clubes do Brasil situados na capital, e conquistou a terceira colocação logo em sua estreia na fase final do Campeonato Paulista Sênior, realizada em Santos. Ainda viria a ganhar três campeonatos inter-regionais, mas por diversas circunstâncias não conseguiu disputar as finais. “Sempre fui apaixonada por judô. Vencer ou perder fazia parte do jogo.”

Pós-graduada em pedagogia, formada em letras e concluindo a faculdade de educação física, Suzana tem intimidade com as artes marciais: é ni-dan de judô, segundo grau de jiu-jitsu, segundo dan de ju-jutsu, sho-dan no karatê Kyokushinkai (IKF) e o equivalente a faixa-preta em muay thai (que não usa graduação) “Lutar para mim é algo prazeroso e me motiva muito”, confessa.

Equipe que conquistou as medalhas no Campeonato Paulista Inter-regional © Arquivo

Em 2015, já em Buri, ela iniciou o Projeto Judô Ajuda, inicialmente numa academia que cobrava mensalidade apenas de quem podia pagar. Quando sentiu que precisava de mais espaço, procurou o então secretário de esportes, Germano Almeida Peschel (que atualmente é o prefeito). A prefeitura concordou em apoiar o projeto fornecendo o espaço e os tatamis, mas não podia pagar salários.

“Encarei o desafio, mas quando já tínhamos mais de 20 alunos pedi às autoridades que nos ajudassem a federar os judocas que queriam competir e evoluir tecnicamente. Foi quando fizemos uma reunião com o sensei Takeshi Yokoti (coordenador de arbitragem da FPJudô e delegado da 16ª DR) e filiamos o projeto, no finzinho de 2018.” Atualmente o Judô Buri atende cerca 130 crianças, do infantil ao adulto – e há uma longa fila de espera. Suzana dá aulas às quartas e sextas-feiras, mas as terças e quintas são reservadas aos 64 alunos que prestarão exame de graduação e ao treinamento dos que já competem nos torneios da federação.

Takeshi Yokoti, delegado regional da 16ª DR Sul Itapeva © Global Sports

O prefeito Germano Almeida Peschel enfatiza que é preciso valorizar o trabalho da sensei Suzana, pois ela comanda um projeto que contribui para o desenvolvimento global da criança. “O judô é um esporte muito especial sob o ponto socioeducativo, valoriza muito a disciplina dos praticantes e não apenas ensina o esporte, mas prepara as crianças e jovens para se tornarem bons cidadãos. Nosso judô, conhecido e respeitado na região, agora ganha projeção no Estado. Sou profissional de educação física e, como prefeito, tive de sair um pouco do esporte, mas jamais o esporte irá sair de mim.”

O poder público municipal garante a infraestrutura do projeto, mas não remunera a sensei Suzana. Quem paga então as despesas referentes à filiação dos atletas e as taxas de competição? “Eu jamais esqueci a minha origem e nunca vou esquecer que foi o judô que me proporcionou o crescimento pessoal que me permitiu ir muito mais além. Além das taxas, nossos alunos que necessitam são assistidos com judogis e o material necessário. Tenho meu salário como professora do ensino público fundamental e a colaboração de amigos e pessoas muito especiais que me ajudam assistir as crianças sem recursos. Sem eles eu não teria como seguir adiante”, explica Suzana.

Professora Suzana com parte dos alunos do projeto © Josy Ávila

E não esconde: “Entre as pessoas que apoiam o Judô Buri estão a professora Bernadete Reguini, Marcela Paiva, Adilson Ferreira, André Cleto, o casal Gabriela Santos e Ninho Albuquerque, Bárbara Patriarca (ex-secretária da Educação e atual supervisora de ensino), Judith Cafundó (diretora da Escola Municipal Coronel Vitalino de Barros) e empresas como a Construbase Artefatos de Concreto e Terraplenagem, a Marcenaria Jacarandá e a Padaria São José.”

Suzana destaca também a contribuição do prefeito Germano Peschel, que sempre dá um jeito de atender as necessidades e demandas do Judô Buri, e o trabalho do delegado regional da 16ª DR Sul Itapeva, sensei Takeshi Yokoti, grande incentivador do projeto. “O professor Takeshi Yokoti é um dirigente visionário que fomenta o judô de forma obstinada e incansável!

Sensei Suzana no dojô com alunos do projeto © Josy Ávila

Medalhas e sonhos

Uma das coisas mais importantes que a sensei Suzana aprendeu em quase quatro décadas de prática do judô é que muita conversa, diálogo e motivação são fundamentais para o crescimento dos atletas mais novos. A equipe que ficou em terceiro lugar no inter-regional é a mesma que venceu a fase regional da 16° DR Sul Itapeva. “Quando nossos alunos foram federados, a primeira coisa que eu fiz foi perguntar quem queria competir no campeonato paulista de verdade. A partir daí iniciamos os treinos de terça e quinta-feira, visando a fortalecer o judô de todos eles – e está dando muito certo. Treinamos muito a parte física e aeróbica, mas o mais importante é estimular a motivação, reforçando a atitude mental dos nossos atletas.”

O espírito de união torna a equipe de Buri um exemplo a ser seguido © Josy Ávila

Nesses treinos Suzana deixa de ser professora para ser técnica e não economiza cobrança. “Quando um deles afrouxa, eu vou logo avisando: é com esse judozinho meia boca que você quer conquistar resultados? Este é o seu sonho de ser campeão paulista e disputar um brasileiro? Então pare de enrolar e dê o seu melhor. Se você não conseguir dar o máximo aqui, pode estar certo que não o fará lá. Tenho plena convicção que este treino separado está trazendo grandes resultados.”

Tendo o eri-seoi-nage como seu tokui-waza, Suzana confessa que seu maior sonho é ver seus alunos alcançarem a faixa preta. “Este ano formarei meu primeiro faixa-preta. Mas meu sonho é deixar um legado com muitos faixas-pretas formados e dando aula por todo o interior, massificando cada vez mais a nossa modalidade.” Quer, também, ter seu próprio espaço para ensinar, cobrando uma pequena taxa de quem puder pagar e de graça para quem não puder. “Não aceito separar as questões sociais. Acho que este é o verdadeiro caminho mostrado por Jigoro Kano.”

Takeshi Yokoti, coordenador estadual de arbitragem e Suzana de Oliveira, árbitra dos quadros da FPJudô © Arquivo

Tamanho não é documento!

O delegado regional Takeshi Yokoti, mostra-se impressionado com a quantidade de jovens e crianças que a sensei Suzana consegue levar aos torneios, fazendo de Buri uma das maiores delegações e sempre terminando entre as mais bem colocadas. “A prefeitura dá um bom apoio e respaldo legal para a modalidade, mas há um grupo de apoiadores que abraça o judô de verdade e, assim, a pequena e recém-formada equipe de Buri se destaca nos principais eventos da FPJudô.”

O delegado regional da 16ª Sul Itapeva concluiu lembrando que a união faz a força. “O trabalho capitaneado pela sensei Suzana nos dá muitos exemplos e ao mesmo tempo contraria a lógica de que somente os grandes centros e as grandes equipes podem produzir bons resultados. O principal condimento do Projeto Judô Ajuda é o amor e o cuidado com o próximo na gestão dos poucos recursos que consegue reunir. Tenho plena convicção de que as pessoas que coordenam esta iniciativa utilizam o esporte para proporcionar melhor formação às crianças e jovens mais necessitados de Buri e despretensiosamente acabam mostrando que no âmbito socioeducativo tamanho não é documento.”

Projeto Judô Ajuda, campeão da fase regional do campeonato paulista aspirante © Arquivo
Sensei Suzana exibe o troféu de campeão da fase regional do campeonato paulista aspirante © Arquivo

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