Treino no dojô atual
Dando sequência ao importante projeto da 7ª Delegacia Regional que pretende contar a história do judô da Região Sudoeste paulista, a Budô publica o segundo capítulo, dedicado ao Esporte Clube Osasco Yanaguimori, uma das mais tradicionais escolas de judô do Brasil.
Aluno do Esporte Clube Osasco Yanaguimori há quase meio século, o professor go-dan João Velloza revelou de forma bastante clara e sucinta a trajetória de um dos dojôs mais antigos de Osasco, fundado pelo sensei Masaru Yanagimori, o professor mais longevo do Estado de São Paulo e do Brasil.
Primeiro aluno formado san-dan (3º dan) pelos senseis Masaru e Massanori Yanaguimori, Velloza matriculou-se na academia quando tinha apenas 10 anos, em 11 de janeiro 1972, sendo o mais antigo aluno a dar aulas no dojô osasquense. “Tive o prazer de ser convidado por Daniel Kan, neto do sensei Masaru, a escrever algumas memórias de uma das mais tradicionais academias de judô do Brasil.”
O sempai do Esporte Clube Yanaguimori conta que antes de ir para Osasco, sensei Masaru Yanagimori começou a dar aula de judô na cidade de Lucélia, em 1950, e a partir de 1960 foi professor de judô na Associação de Judô Tupã, da colônia japonesa, que posteriormente passou a chamar-se Associação Cultural Esportiva e Recreativa de Tupã (Acert), até 1968.
Em 1969 sensei Masaru Yanagimori mudou-se com toda a família para Osasco e fundou com seus filhos o Esporte Clube Osasco Yanaguimori (ECOY), na Rua Dona Primitiva Vianco, no centro da cidade. O nome da academia tem grafia diferente do nome da família para que todos possam pronunciá-lo corretamente: Yanaguimori.
O ECOY começou a funcionar em 1969 e logo após cinco meses de existência já participou do primeiro campeonato amistoso realizado pela Academia Mizuki em Santo Amaro, e teve a sua inauguração oficial no final do mesmo ano.
No ensino da filosofia do judô, sensei Massanori Yanagimori sempre preparou os alunos para a vida, mostrando que é preciso espírito de solidariedade, fraternidade e principalmente o respeito ao seu semelhante.
“Já seu pai, sensei Masaru, sempre mostrou que no judô a força deve ser usada com inteligência, usando o princípio da eficiência máxima com o menor gasto de energia. Lembro de uma vez, quando íamos para uma competição numa manhã fria, em que comentei com o sensei Masaru como havia sido difícil tomar banho naquela manhã. Aí ele disse: em dia de competição não tome banho de manhã, senão você lava toda a energia acumulada durante a noite. Vivendo seu exemplo, hoje sensei Masaru é o judoca mais longevo do Brasil e sempre soube usar sua energia com eficiência máxima, e ele a tem até hoje.”
Por outro lado, sensei Massanori mostrava o caminho da competição. “Ele fez estágio no Instituto Kodokan de Tóquio de 1962 a 1967, voltou com 21 anos e portando o yon-dan (4º dan). No Brasil ajudava o pai na academia e disputou dois mundiais: na Alemanha em 1971 e na Suíça em 1973, no qual obteve o 7º lugar. Eu já treinava desde 1972 e fiquei muito empolgado e motivado em poder aprender com um representante do Brasil em mundiais”, detalhou Velloza.
Desde a sua fundação o Judô Yanaguimori teve várias sedes na região central de Osasco. Por volta de 1973 a academia mudou para uma espécie de porão do cine Glamour. Era uma área enorme, mas com o pé-direito baixo. O tatami era muito grande e havia bastante espaço para recreação da criançada antes da aula de judô. Naquela época não havia tantas competições, e como a escola estava bem próxima da sede da Associação de Judô Kenshin, os dois dojôs faziam competições e se fortaleciam tecnicamente.
Durante esses anos todos a academia colecionou vários títulos. Além do mestre Masaru Yanagimori, que foi um grande competidor no seu tempo, seus filhos senseis Massanori, Ziró, Roberto e Júlio e o neto Daniel Kan colecionaram medalhas em campeonatos estaduais e nacionais. De forma coletiva a academia conquistou títulos em Jogos Abertos e no Campeonato Beneméritos. Mas foi em 2015 que a Yanaguimori se destacou no cenário nacional, ficando entre as cinco melhores equipes de judô sênior do Brasil no 12º Grand Prix Nacional de Judô masculino, ficando atrás somente de equipes como o Esporte Clube Pinheiros, Minas Tênis Clube, Instituto Reação e Jequiá Esporte Clube.
A academia formou vários atletas que alcançaram títulos estaduais e nacionais nas diversas categorias e faixas etárias, tanto no masculino quanto no feminino, inclusive medalhistas em mundiais veteranos. Nomes como Alexandre Portella, Ângelo Berto, Marcos Diógenes, Mara Jorqueira e Esther (Kiki) Velloza, entre outros.
Não podemos deixar de destacar uma das melhores equipes de todos os tempos, não só na academia, mas também do Brasil. Essa equipe começou no sub 13 e lutou até o sub 21, sendo campeã cinco vezes do Torneio Beneméritos do Judô do Brasil – 1991, 1993, 1995, 1997 e 1998 – e vice-campeã em 1996. A equipe base contava com Shigueo Isotani, Rafael Santana, Otávio Santana, Seiji Isotani, Hélio Jun Yanagimori, Daniel Hideki Kan, Thiago Veiga Ximenes e Guilherme Veiga Samogin. Fizeram ainda parte dessa equipe Mário Rossi, Gustavo Ramos, Nicolae Curry, Thiago Medeiros e Guilherme Trocoli.
Estima-se que a academia formou mais de 200 faixas-pretas, e entre os mais graduados estão Masaru Yanagimori, professor kodansha kyuu-dan (9º dan) que completará 100 anos em fevereiro 2021; Massanori Yanagimori, professor kodansha hachi-dan (8º dan); Jiro Aoyama, professor kodansha roku-dan (6º dan), atual delegado da 7ª DRJ Sudoeste, grande estudioso e líder na região; João David de Andrade, professor kodansha roku-dan (6º dan), coordenador de arbitragem da 7ª DRJ Sudoeste e árbitro FIJ B; João Velloza professor faixa preta go-dan (5º dan), coordenador de cursos da 7ª DRJ Sudoeste; José Anastácio Camarotto, professor faixa preta go-dan (5º dan); Daniel Hideki Kan, professor faixa preta yon-dan (4º dan), sobrinho do sensei Massanori e o grande líder da academia que irá sucedê-lo; Reinaldo Machado, professor faixa preta yon-dan (4º dan), membro ativo no ensino para crianças; e Renato Machado, professor faixa preta yon-dan (4º dan), grande colaborador nos treinamentos.
Hoje a academia está muito bem localizada, no melhor ponto de Osasco, na Avenida Maria Campos, 388, e está equipada com os mais modernos tatamis que existem no mercado.
João Velloza terminou seu relato agradecendo pela escola ter até hoje um sensei que veio do Japão. “Sensei Masaru é o único professor japonês vivo entre os que chegaram no início do século passado (desembarcou no porto de Santos em 4 de julho de 1936) e trouxeram o judô para o Brasil.”
“Hoje, o comando é do sensei Massanori, que tem como braço direito o sobrinho sensei Daniel Kan, que manterá a tradição da família, com o apoio de diversos senseis graduados”, prossegue. “Somos realmente uma grande família tradicional do judô paulista, que se perpetuará por muitos séculos retransmitindo os ensinamentos do professor Jigoro Kano.”