No início de 2019 tivemos a oportunidade de acompanhar o trabalho desenvolvido pela coordenação de arbitragem da Federação Paulista de Judô nas 16 delegacias regionais. Esta operação complexa começa com os módulos regionais que se realizam a partir de fevereiro e se estende por toda a temporada por meio dos seminários e cursos específicos que antecedem os exames anuais.
Ex-atleta da seleção brasileira de judô e professor de jiu-jitsu, Marco Antônio Barbosa, o Barbosinha, é bicampeão brasileiro de judô e representou o Brasil em diversas competições no exterior, quando rivalizava com os meio-leves Rogério Sampaio, campeão olímpico em Barcelona 1992, e Henrique Guimarães, bronze em Atlanta 1996.
Nascido em Araçatuba em 1º de agosto de 1968, Marco Antônio Barbosa teve como estímulo para iniciar os treinos de judô, assim como muitas crianças, o desconforto com o bullying que sofria na escola.Além disso, não queria ser menos que ninguém.
Aluno do professor Omar Miquinioty, num dojô em Guararapes (SP), desde cedo Barbosinha mostrou que não seria apenas mais um praticante de judô devido à seriedade aplicada nos treinos e, principalmente, à variedade de técnicas que empregava.
Mais tarde, Omar Miquinioty o identificou como um talento e, para desenvolvê-lo, estimulou a transição da fase esportiva para a competitiva ao aconselhá-lo a residir e treinar em Bastos, município paulista com forte influência da colônia japonesa. Lá integrou-se à renomada Associação de Judô Bastos, conhecida pela rígida disciplina e pelos treinos rigorosos comandados pelo professor kodansha Uichiro Umakakeba, de quem recebeu a faixa preta em 1986, aos 18 anos.
Barbosinha permaneceu três anos em Bastos e foi forjado pela severa disciplina que incluía a proibição de assistir à televisão e até mesmo de namorar e destacou-se por cumprir à risca todas as exigências e determinações de seu sensei. Tecnicamente, se sobressaía nos treinos por sua habilidade na luta de solo e pela forma como imobilizava e finalizava seus adversários, aplicando técnicas ne-waza transmitidas por Umakakeba, que as retirava de livros editados em japonês.
“Meu comportamento exemplar no dojô e a vontade de crescer no esporte acabaram levando-me para o Japão, onde vivi entre 1989 e 1990. Durante esse período, dividia meu tempo entre os treinamentos de judô e a Igreja Tenrikyo, que financiou minha estadia no Japão”, explicou Barbosinha.
Quando voltou para o Brasil, já era um atleta conhecido e em seletivas conquistou vaga na seleção brasileira, tendo disputado os Jogos Pan-Americanos de Cuba e o Campeonato Mundial da Espanha em 1991.
Em 1992, como atleta do Esporte Clube Pinheiros, recebeu de Zaga, seu parceiro de treino, os primeiros ensinamentos sobre o esporte que o consagraria: o jiu-jitsu. Trabalhando no projeto chamado USP/Xerox como professor de judô, foi estimulado por alguns alunos da universidade, lutadores de jiu-jitsu que admiravam sua destreza ao lutar no chão, a conhecer e a praticar jiu-jitsu.
A partir daí, iniciou seus treinamentos na equipe da Companhia Paulista com aulas ministradas pelos professores Roberto Godoy e Macaco.Como desenvolvimento natural, passou a compartilhar o conhecimento que acumulou,simultaneamente com sua participação nos mais expressivos campeonatos da época.Começou também a treinar seus próprios alunos na academia da Rua Cubatão e posteriormente a ensinar jiu-jitsu nas principais academias de São Paulo.
Agregando toda a técnica adquirida no judô ao conhecimento obtido no jiu-jitsu, Barbosinha é hoje uma das principais referências técnicas de ne-waza no Estado de São Paulo. Por isso o professor Alex Russo, coordenador da classe veteranos da Federação Paulista de Judô (FPJudô),convidou Barbosinha para demonstrar sua técnica refinada aos veteranos que treinam às quintas-feiras no Centro de Aperfeiçoamento Técnico (CAT). O convite foi aceito prontamente.
“Ainda estamos fazendo a pré-temporada e convidamos o professor Barbosinha para nos dar uma mão no preparo dos judocas veteranos que treinam semanalmente no CAT. Ele começou no judô, desenvolveu técnica apurada de ne-waza e adquiriu vasto conhecimento no chão com o jiu-jitsu. Como a FIJ está mais complacente no tocante à luta no solo, achamos importante convidá-lo para treinar nossos atletas. Acreditamos que com a ajuda dele vamos agregar qualidade técnica ao judô dos faixas-pretas veteranos que treinam conosco”, disse Alex Russo.
“Esta foi a segunda vez que convidamos o sensei Barbosinha para treinar judocas da classe veteranos e o trabalho apresentado por ele é excepcional. Além do grande conhecimento de que dispõe, ele possui excelente didática, o que faz com que todo mundo aprenda e assimile seus ensinamentos facilmente”, detalhou o coordenador da classe veteranos.
Com didática apurada e o dom de transmitir o ensinamento que recebeu de seus mentores, Barbosinha explicou que reviu o ude-garami, fazendo apenas uma leitura diferente e muito mais ampla.
“Trabalhamos o ude-garami, uma técnica que todos conhecem, mas fizemos a aula com um olhar diferente. Muitas vezes, o foco de um golpe é feito eminentemente na posição, mas eu acho que falta um olhar mais detalhista com relação à construção de um movimento e à construção de situações. Não devemos ficar presos somente à posição em si ou à técnica propriamente dita, já que assim o praticante não se desenvolve satisfatoriamente”, detalhou Barbosa.
“Durante o treino dei o exemplo do judoca que só faz uchi-komi parado; a realidade não é essa, já que ninguém luta parado. Deve-se ensinar o atleta a construir situações e ter capacidade motora suficiente para agir, reagir, atacar e defender durante o combate,sem sofrer pressão. O que fizemos foi apenas um ajuste numa técnica lançando um olhar diferente sobre uma posição que a maioria dos judocas conhece,e parece que o pessoal gostou bastante”, concluiu Barbosinha.
Dirigentes elogiam a qualidade do trabalho realizado no CAT
Alessandro Puglia, vice-presidente da FPJudô, classificou como excelente o trabalho realizado pelo professor Marco Antônio Barbosa no Centro de Aperfeiçoamento Técnico.
“Os treinos e cursos do sensei Barbosa sempre oferecem grande aprendizado. É um professor de judô conceituado que hoje está no jiu-jitsu, mas com todo perfil de judoca. Ele realizou uma palestra brilhante e mostrou como nossos veteranos podem melhorar no chão. Foi um treinamento muito proveitoso e importante para todos.”
Ton Pacheco, presidente da Federação de Judô do Estado de Tocantins (Fejet), estava na capital paulista e pôde acompanhar o trabalho apresentado por Barbosinha no CAT.
“Não posso falar do Barbosinha sem lembrar que fui várias vezes treinar em Bastos, e foi lá que o conheci. Ele sempre foi um judoca muito dedicado e estudioso. Posteriormente passou uma temporada treinando em Tenri, no Japão, e aprimorou seu conhecimento em ne-waza. Posteriormente levou este conhecimento para o jiu-jitsu, usando a excelente didática que possui”, disse o dirigente tocantinense,
“Anos depois casou-se com a Carlinha, com quem fundou a B9,uma escola fundamentada em novo modelo de gestão para academias. O tempo mostrou que ele é um dos raros exemplos de grandes atletas que posteriormente se tornaram grandes didatas. Pelo que pude ver no CAT, ele segue a linha do professor Sadao Fleming Mulero, mostrando com extrema clareza seus pontos de vista no tocante às áreas técnica e filosófica de nossa modalidade”, concluiu Ton Pacheco.
Luís Alberto dos Santos, coordenador de cursos da federação paulista,lembrou que o trabalho apresentado por sensei Barbosa só veio acrescentar. E mencionou especialmente a área de katame-waza, que é o domínio no solo, na qual“ele efetivamente se especializou de maneira ímpar, sendo a maior referência técnica do judô no Estado de São Paulo”.
“A participação do Barbosinha foi fantástica e de grande valia para todos que lá estiveram. Enquanto atleta de judô ele sempre mostrou muitos recursos e muita competência técnica. Foi um atleta diferenciado do alto rendimento e um dos maiores motivos de não ter conquistado títulos mais expressivos é que confrontou judocas também excelentes, como os medalhistas olímpicos Rogério Sampaio e Henrique Guimarães”, avaliou Luís Alberto.
“Tenho grande admiração e respeito por ele e acho que deveríamos aproveitar tudo que ele sabe de judô não apenas para a classe veteranos e sim para as demais. Um workshop dele é sempre muito bem-vindo. É uma pessoa séria, com caráter e conduta ilibados, que fez no judô e continua fazendo hoje, no jiu-jitsu, um trabalho excepcional, no qual consegue levar para seus alunos tudo aquilo que aprendeu sobre a disciplina e a doutrina do judô. Sem dúvida alguma, isso aproxima ainda mais as nossas modalidades. Estou certo de que ele ainda dará muitas clínicas e prestará enorme contribuição ao judô paulista”, previu o coordenador de cursos da FPJudô.
Cumprimentando o professor Barbosa pela excelente qualidade do trabalho apresentado no CAT, Francisco de Carvalho pontuou que desde quando competia ele já mostrava que era um judoca muito acima da curva.
“Vejo grande importância no intercâmbio que a classe veteranos de São Paulo tem promovido sistematicamente.O ponto relevante desse treinamento é que o professor Alex Russo convidou um especialista em ne-waza formado em Bastos. Um professor que acabou migrando para o jiu-jitsu, mas não perdeu as características que adquiriu no judô. Sensei Barbosa não perdeu a disciplina, o respeito hierárquico, a maneira de raciocinar e de se comportar. Ele mantém a postura, o cumprimento e a ética de um judoca. Coisas que foram incutidas nele e,felizmente, nunca mais saíram”, detalhou o presidente da FPJudô.
“Além da excelente didática, Barbosinha possui o perfil de judoca e isso também proporciona uma característica diferente a todos que treinam jiu-jitsu com ele. No cenário do judô, ele transmite tudo que sabe e conhece sobre ne-waza, katame-waza e demais técnicas de solo que traz do jiu-jitsu e sabe como aplicá-las corretamente no judô devido à base que adquiriu com os professores Miquinioty e Umakakeba”, lembrou Chico do Judô.Por fim, destacou a relevância pedagógica do curso realizado no CAT.
“Avalio a clínica apresentada pelo professor Barbosa como extremamente importante, já que nos treinos dos veteranos vemos sempre muitos professores que levarão tudo que aprenderam com este renomado professor de jiu-jitsupara os treinos do dia a dia em seus dojôs. Mais uma vez Alex Russo, nosso coordenador, dá mostra do comprometimento e da visão que possui na condução da classe veteranos do Estado de São Paulo.”
Por Paulo Pinto / Fotos: Budôpress