Participantes do último dia do kangeiko de Aguaí © fpjcom
Com apoio da Prefeitura e da Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Lazer, a Federação Paulista de Judô (FPJudô) e o Instituto Criança Ativa realizaram de 7 a 9 de setembro o II Kangeiko Aberto de Aguaí. O evento anual tem como finalidade disciplinar tanto a mente quanto o corpo de jovens atletas por meio de treinamentos específicos e de abordagens abrangentes.
Entre as autoridades presentes à solenidade de abertura estiveram o prefeito de Aguaí, Alexandre Araújo; o presidente da FPJudô, Alessandro Panitz Puglia; o secretário municipal de Administração, Alan dos Santos; o diretor municipal de Esportes, Sílvio César Souza; e os vereadores Edmundo Marti Gonzalez Júnior (PSDB) e Edvaldo César Cardoso (PSC).
As palestras e treinamentos foram ministrados pelos medalhistas olímpicos Luiz Yoshio Onmura (Los Angeles 1984) e Henrique Carlos Serra Azul Guimarães (Atlanta 1996); Osvaldo Hatiro Ogawa, coordenador técnico do Centro de Excelência Esportiva de São Bernardo do Campo; Elton Fiebig, Marcelo Kenji Fuzita, Marco Antônio Costa, Vânia Ishii e Danielli Yuri Barbosa, ex-atletas da seleção brasileira e técnicos do Centro de Excelência Esportiva de São Bernardo do Campo; Omar Augusto Miquinioty Júnior, professor kodansha; e Danilo Pietrucci e Diego Buzon Souza, técnicos do Instituto Criança Ativa, anfitriões do evento.
Depois de agradecer a presença de todos e elogiar a organização, Alessandro Panitz Puglia, presidente da FPJudô, confirmou que a partir do ano que vem Aguaí vai receber um Centro de Formação para atender jovens praticantes de judô de toda a região. “A confirmação de que a partir do próximo ano teremos aqui em Aguaí, um centro de formação do judô, mostra que em breve ofereceremos maior possibilidade de desenvolvimento técnico para os jovens praticantes dessa região.”
O Centro de Formação de Aguaí, quando concretizado, terá sua sede no ginásio Domingão e será responsável pelo desenvolvimento de atletas da base ao alto rendimento, além da prospecção e formação de novos talentos. “A nossa relação com o judô tem-se consolidado cada vez mais”, afirmou o prefeito Alexandre Araújo. “Essa possibilidade de sediar um centro de formação nos traz muita alegria e orgulho. Aguaí entra para o mapa estadual do esporte e a nossa cidade só tem a ganhar com isso.” Ele destacou que a promoção de grandes eventos da modalidade, como o segundo Kangeiko de Aguaí, atrai visitantes fomentando o turismo e movimenta a economia local.
A respeito do kangeiko, Puglia observou que no judô ninguém faz nada sozinho. “Para treinar é preciso ter um companheiro, e para fazermos a gestão do esporte nós precisamos ajuda de pessoas do bem, seja nas prefeituras, seja no governo do Estado ou na própria federação.”
Dirigindo-se aos atletas e citando o técnico Bernadinho, supercampeão do vôlei, Puglia alertou que para alguém sonhar em ser um medalhista olímpico tem de abrir mão de várias coisas. “Hoje, em pleno feriado, vocês estão aqui, treinando. Vocês estão aqui para aprender, estão focados e com objetivos claros, estão cercados de professores de alta qualidade. Então, procurem absorver o máximo desses professores e levem o aprendizados para suas academias.”
O presidente da FPJudô insistiu que o judô é um esporte diferenciado, que não dá nada de graça aos atletas. “O corpo fica dolorido, a mente fica cansada, mas se vocês não fizerem isso, não vão construir nada na vida. Treinem muito, busquem muito conhecimento, e nunca deixem de estudar, porque isso é a parte mais importante para vocês serem futuros atletas que vão representar o nosso País.”
Grande entusiasta da modalidade, o prefeito de Aguaí espera que as ações desenvolvidas no município sejam um incentivo para que outros gestores públicos trabalhem para dar melhor estrutura ao esporte em todo o Estado. “Eu não conhecia o judô, mas hoje eu entendo a sua importância didática e seu potencial pedagógico, em função das transformações que nosso trabalho tem causado em nossas crianças, muita vindas de famílias mais vulneráveis.”
Professor kodansha (6ºdan), ex-atleta da seleção brasileira e coordenador técnico do Centro de Excelência Esportiva de São Bernardo do Campo, Elton Fiebig tem-se destacado com um dos mais eficientes formadores do judô brasileiro e participa do evento em Aguaí desde a primeira edição. “Acompanho o trabalho dos senseis Danilo e Diego há bastante tempo, e sei quanto eles estão desenvolvendo o judô na região da Mogiana”, explicou.
Responsáveis em grande parte pelo reconhecimento do judô como prática socioeducativa em Aguaí, onde a modalidade faz parte da grade curricular de escolas municipais de ensino fundamental, Danilo Pietrucci e Diego Buzon Souza fazem questão valorizar o apoio que recebem tanto do prefeito quanto dos professores e ex-atletas consagrados. “A relevância do Kangeiko de Aguaí deve-se à colaboração dos formadores viabilizada pela Federação Paulista de Judô, na figura de seu presidente e da sua diretoria.”
Fiebig ressaltou a importância de as gerações mais novas terem contato com grandes professores, ex-atletas que já conquistaram resultados internacionais. “Na nossa época tínhamos de nos deslocar a grandes distâncias ou até para fora do País para encontrar um corpo técnico qualificado. Hoje a federação paulista tem proporcionado a presença de grandes professores no interior, permitindo a disseminação de mais fundamentos, mais conhecimentos e experiências.”
Fiebig contou que cada professor teve em Aguaí a oportunidade de demonstrar um pouco da sua qualidade e especialidade técnica, de como se preparou para chegar aos resultados internacionais. “E o mais importante: a criança sai daqui levando informação, conteúdo para aplicar na sua academia e replicar entre os colegas. Hoje a oportunidade é deles, mas no futuro pode ser de outros porque o judô é um ciclo interminável, no qual procuramos sempre manter o legado que recebemos muitos anos atrás.”
Fiebig argumentou que os professores transmitem parte do que lhes foi ensinado, mas com uma abordagem diferente para que os mais novos entendam. “O volume de treinamento que recebemos era muito maior”, esclareceu. “Não só por falta de conhecimento teórico dos nossos professores, mas também porque não havia tanta exposição na mídia, levando a uma dedicação mais forte ao esporte. Hoje procuramos adequar o treinamento ao perfil do aluno, a sua capacidade física e cognitiva, para que todos possam absorvê-lo independentemente da condição física ou faixa etária.”
Danielli Yuri Barbosa, ex-atleta da seleção brasileira e professora do Centro de Excelência Esportiva de São Bernardo do Campo, atua na formação de atletas desde os tempos que o Projeto Futuro funcionava no Parque do Ibirapuera, na capital paulista. Mas não esquece do que sentia quando era apenas uma aluna nos kangeikos.
“Lembro que eu saía de cada kangeiko, de cada treinamento, com uma mente diferente. Pegava coisas mais específicas, que passavam despercebidas no dia a dia. Quem vivencia estes treinamentos leva uma bagagem para casa e, se colocá-la em prática no dia a dia, com certeza vai obter um resultado fantástico”, afirmou.
Na rotina das academias o jovem fica limitado à didática do seu sensei. “Então, às vezes, mudar de professor pode trazer um ganho importante. Eu mesma estimulo meus alunos a treinarem em outros clubes para variar. Não podemos ser egoístas e colocar os nossos atletas embaixo do braço. Temos de deixá-los também aprender um pouco de cada sensei e fazerem seu próprio desenho do judô – porque o judô é uma arte.”
Marcelo Kenji Fuzita, ex-atleta da seleção brasileira e técnico do Centro de Excelência Esportiva de São Bernardo, apesar de ser um dos mais novos professores do Estado, destaca-se pela sólida experiência técnica e filosófica. E não à toa: ele cresceu e se formou no Japão, para onde sua família emigrou quando ele ainda era criança.
Basicamente, kangeikos são treinamentos de campo intensivos, com o objetivo de aprimorar as habilidades fundamentais dos judocas mediante repetição exaustiva de técnicas essenciais, melhora da forma física e mental e transmissão de valores éticos e morais intrínsecos ao judô. Mas, para Fuzita, a participação de medalhistas olímpicos, ex-atletas da seleção e professores renomados dá ao evento de Aguaí uma dimensão extraordinária.
“O kangeiko é uma escolha sábia para os jovens que desejam alcançar o sucesso no mundo do judô e na vida. “E uma decisão certa de dirigentes que buscam pulverizar o conhecimento técnico.”
“Medalhistas olímpicos são atletas que alcançaram o auge da carreira. Eles têm uma compreensão profunda das nuances das técnicas, desenvolveram estratégias vitoriosas e superaram desafios em níveis internacionais”, descreveu Fuzita. “Essa experiência enriquece a qualidade do treinamento, proporcionando insights valiosos para os judocas em formação.”
E prosseguiu: “Eles podem detalhar cada movimento, corrigir erros sutis e oferecer dicas personalizadas a cada aluno. Esse conhecimento técnico preciso é fundamental para aperfeiçoar as habilidades dos judocas em desenvolvimento. Além disso, são modelos de perseverança, demonstrando o valor do trabalho duro e da dedicação. Isso motiva os judocas jovens a definirem metas ambiciosas e a persistirem em sua busca da excelência.”
Fuzita vê mais do que habilidades técnicas nos medalhistas olímpicos. “Eles enfatizam a importância dos valores do judô, como respeito, humildade e ética. Eles não apenas ensinam como vencer nos tatamis, mas também como ser uma pessoa melhor fora dele, fortalecendo o caráter dos judocas em formação.”
Em resumo, segundo Fuzita, investir em programas como o kangeiko é uma escolha sábia para os jovens que desejam alcançar o sucesso no mundo do judô e na vida. “E uma decisão certa de dirigentes que buscam pulverizar o conhecimento técnico.”
Osvaldo Hatiro Ogawa, professor kodansha hachi-dan (8º dan) e coordenador técnico do Centro de Excelência Esportiva de São Bernardo identifica três pontos principais no kangeiko: o encontro de jovens de diferentes regiões com a participação orientada de professores experientes; confraternização social, sedimentando novas amizades; e aprendizagem de diferentes técnicas.
“Resumindo tudo numa rápida pincelada, essa integração através do judô traz benefício social, técnico e emocional. A vivência num ambiente coletivo, num alojamento onde tudo é compartilhado, para muitos é uma situação inédita”, acrescentou Ogawa. “Isso vai elevar o conceito deles pelo lado social e pelo judô.”
Marco Antônio da Costa, o Rato, ex-atleta da seleção brasileira e professor do Centro de Excelência Esportiva de São Bernardo, mostrou nos treinamentos como desenvolveu os golpes que o destacaram como judoca do alto rendimento. Para ele, foi sensacional a ideia da FPJudô de juntar professores que já se destacaram e grandes ex-competidores para trabalhar a base do judô, uma vez que os grandes mestres do passado já se foram.
Vânia Ishii, técnica do Centro de Excelência Esportiva de São Bernardo, fez questão de parabenizar o prefeito Alexandre Araújo, o secretário de Educação Gilberto Selber e a FPJudô, além dos senseis Diego Buson e Danilo Pietrucci, pela iniciativa de instituir no interior do Estado um centro de formação de judô.
“O segundo Kangeiko de Aguaí foi um sucesso”, avaliou Vânia. “Reunir senseis renomados num treinamento foi sensacional para a base da modalidade do Estado. Acredito que as demonstrações dos professores enriqueceram o conhecimento técnico de judocas desde a criançada até a classe sub 21.”
Luiz Yoshio Onmura, medalhista olímpico e professor do Centro de Aperfeiçoamento Técnico (CAT) da FPJudô, foi breve, porém consistente, em sua avaliação.
“No treinamento de campo nós tentamos resgatar o judô antigo, que os nossos professores ensinaram. São golpes tradicionais, que gostávamos de ver em todas as lutas, o que não acontece hoje em dia. As lutas ficaram muito feias. Então nós procuramos da melhor forma possível mostrar o que os nossos professores mostravam e tentar colocar na cabeça dos jovens que o nosso judô de São Paulo ainda é clássico, tradicional e bonito de ser visto.”
Henrique Carlos Serra Azul Guimarães, medalhista olímpico e coordenador-geral do projeto do Centro de Excelência do Judô de SBC, falou sobre sua estratégia de dissecar a execução de golpes básicos do judô. “Quando passamos isso para as crianças que estão iniciando, eles acabem desenvolvendo meios de combinar com outros movimentos, como a pegada e o avanço, que são a primeira fase do golpe.”
Guimarães acentuou que no judô todos os golpes têm movimentos construídos e são difíceis. “Se não houver um bom desenvolvimento, os iniciantes acabam fazendo errado e depois fica muito difícil corrigir.”
Já o professor kodansha roku-dan (6º dan) Omar Augusto Miquinioty Júnior trabalhou com os aspectos emocionais dos jovens, fazendo intervenções durante os treinamentos. Graduado em educação física e psicologia e pós-graduado em desenvolvimento gerencial e psicologia do esporte, Miquinioty explicou que o objetivo desse trabalho foi ensinar ferramentas práticas para o controle de ansiedade, ativação mental, visualização e gerenciamento do estresse. “Foram aplicadas atividades de mindfulness, autofala, ativação e visualização. Técnicas que desempenham um papel crucial no desenvolvimento esportivo de atletas de todas as modalidades. Essas abordagens psicológicas têm o poder de aprimorar o desempenho, fortalecer a resiliência mental e criar um ambiente propício para o sucesso esportivo”, detalhou.
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