A pandemia provocada pelo covid-19 parou o mundo. Os setores de serviços, comércio e indústria foram duramente atingidos e, na verdade, ninguém ainda é capaz de calcular o impacto real da crise, que deverá persistir até a aprovação e ampla distribuição de uma vacina contra o Sars-CoV-2.
Enquanto algumas entidades e instituições se limitaram a seguir automaticamente os conselhos da OMS, outras buscaram alguma forma de manter seu segmento ativo, preservando a interação de suas lideranças com o público de seus segmentos. Nesse sentido a diretoria da Federação Paulista de Judô (FPJudô) mais uma vez saiu na frente, lançando mão de ferramentas digitais e assumindo o protagonismo que caracteriza a entidade.
Após o impacto causado pelo cancelamento da Copa São Paulo de Judô 2020, que deveria reunir mais de 4 mil atletas nas suas diversas classes e categorias de peso, a FPJudô orientou os 16 delegados regionais a manterem o judô unido e ativo, para evitar uma dispersão que, no médio prazo, poderia ser irreversível para a modalidade.
Além das delegacias regionais, todas as coordenadorias de área foram acionadas, e dessa forma o judô paulista iniciou o longo, porém necessário, processo de reflexão que visava a resgatar a estrutura da federação paulista dos prejuízos causados pelo isolamento social e pelo consequente cancelamento de todas as atividades esportivas.
Capitaneados por integrantes da área técnica, mais jovens e com maior conhecimento tecnológico, delegados e coordenadores iniciaram o amplo processo de alimentar as redes sociais da federação paulista com conteúdo técnico, filosófico, de arbitragem e entretenimento.
Dezenas de ações foram sendo desenvolvidas semanalmente e pouco a pouco reagruparam grande parte dos filiados e praticantes que, em confinamento, estavam ávidos de informação sobre o judô.
Naturalmente este conjunto de ações midiáticas foi dando forma e alicerçando a estrutura utilizada pelas coordenações técnica e de exames de graduação para a realização em formato virtual dos exames de uma temporada em que quase nada se fez presencialmente.
Joji Kimura, coordenador técnico da FPJudô, contou que o objetivo era realizar um exame que efetivamente checasse o conhecimento prático e técnico dos candidatos. Para isso, a coordenação técnica desenvolveu entre os setores competentes uma pesquisa que gerou os 13 protocolos que embasaram a realização dos exames desta temporada.
“Iniciamos este processo em conjunto com todos os setores diretamente envolvidos, ou seja, coordenações de graduação, de cursos e módulos, e também de kata. Ao longo dos meses em que desenvolvemos este trabalho inédito, geramos 13 protocolos. Em determinados momentos fomos obrigados a rebobinar o processo por conta dos ajustes para a construção do novo formato do exame, usando uma plataforma muito interessante”, explicou.
Foi criada também uma comissão de crise formada pelos professores Fernando Ikeda, Marcos Uchida, Rafael Amaro e Mário Assis, de fundamental importância no processo tático e operacional. “A estratégia que nós montamos previa a avaliação de 400 candidatos, mas no fim das contas ultrapassamos os 600.”
Enquanto isso, o professor Luís Alberto dos Santos, coordenador de cursos da FPJudô, realizava treinos presenciais e online no Centro de Aperfeiçoamento Técnico (CAT) e em algumas delegacias, proporcionando grande suporte e segurança aos candidatos.
“Entendemos que o tandoku renshu (exercícios sem parceiro) pode perder alguma qualidade, mas percebemos que este formato de prova foi extremamente democrático”, detalhou Kimura. “Gostaria de ressaltar o número de avaliadores que se propuseram a trabalhar voluntariamente no exame, o que nos permitiu analisar em tempo a grande quantidade de material enviada pelos candidatos.”
O coordenador técnico da FPJudô fez ainda uma análise bastante realista do trabalho exigido pelo exame de graduação desta temporada.
“Todo este processo foi extremamente gratificante para nós. Como coordenador técnico da FPJudô, considero de extrema importância todo este esforço para formar novos faixas-pretas, que logo atuarão em escolas e clubes do estado de São Paulo. É claro que houve algumas limitações no novo formato, mas mesmo assim a ação como um todo foi extremamente positiva. Estou muito feliz e penso que encerramos este ano atípico de forma satisfatória, realizando tudo aquilo que havíamos proposto”, concluiu Kimura.
O treino de kata às quartas-feiras no CAT é um dos mais tradicionais do judô paulista, tendo à frente o professor kodansha Luís Alberto dos Santos desde agosto de 2007. Em função da pandemia a FPJudô foi obrigada a interromper temporariamente o curso, mas, quando a diretoria decidiu realizar o exame e estabeleceu suas regras, ele se viu na obrigação de retomar as atividades, visando a colaborar com os candidatos que eventualmente sentissem necessidade de lapidar a execução dos katas. Para tanto foi desenvolvido um protocolo específico para atender às medidas sanitárias.
“Assim que o governo do Estado liberou a volta dos treinos presenciais, tivemos de definir como seria o treinamento oferecido aos candidatos ao exame desta temporada”, relatou o professor Luís Alberto. “No dia 16 de setembro realizamos o primeiro treino e eu assumi uma agenda mais extensa no CAT devido ao grande número de interessados. Dobramos as sessões de treinamento, já que só poderiam participar 50 judocas em cada aula. Além disso, ministrei cursos em várias delegacias regionais nos fins de semana.” A preparação estendeu-se até 2 de dezembro.
O coordenador de cursos foi enfático ao dizer que o objetivo de todo esse esforço foi servir aos praticantes. “Esta é, sem dúvida alguma, a razão de ser da FPJudô e a principal preocupação da nossa diretoria.” Para tanto elaborou-se um conteúdo programático que respondesse a tudo aquilo que a banca examinadora exigiria dos candidatos em cada uma das graduações.
“Passamos pelos fundamentos técnicos: nage-no-kata, katame-no-kata, ju-no-jata, kime-no-kata e kodokan goshin jutsu. Tivemos candidatos a todas as graduações e por isso tivemos de trabalhar freneticamente em todos os fundamentos técnicos previstos, ou seja: nage-waza, ren-raku-henka-waza e katame-waza.”
O professor kodansha shichi-dan (7º dan) Luís Alberto comemorou a aprovação de todos os judocas que fizeram os cursos. “Algumas pessoas não compreendem muito bem esta questão, mas, quando desenvolvemos um trabalho pedagógico, surgem muitos sentimentos dessa troca de relações, principalmente o afeto e a gratidão. Portanto, tive a iniciativa de averiguar os resultados obtidos pelos candidatos que treinaram no CAT e felizmente todos foram aprovados com notas excelentes.”
Apesar das dificuldades enfrentadas durante a temporada, formaram-se cerca de 500 novos faixas-pretas, que poderão atuar no mercado assim que a situação se normalize. Luís Alberto entende que a FPJudô cumpriu seu papel. “Certamente muitos destes judocas desistiriam de seguir adiante, não fosse a sensibilidade da nossa diretoria.”
“Mais uma vez São Paulo cumpre seu papel na inovação e realização dos exames de graduação para mais de 600 candidatos”, prosseguiu. “Desde março buscamos alternativas para minimizar o impacto da crise que mudou hábitos e costumes de toda a sociedade. Agradeço à presidência e à diretoria que nos confiaram um papel tão relevante.”
Colaboradores foram decisivos
Alessandro Puglia, vice-presidente da FPJudô, explicou que a decisão da diretoria de fazer o exame usando a tecnologia para garantir condições seguras para todos só foi possível graças à colaboração de professores como Fernando Ikeda, Luís Alberto dos Santos e Dante Kanayama. “O professor Luís Alberto, por exemplo, desenvolveu cursos presenciais específicos para o sistema de sombra e elaborou aulas que, depois, foram enviadas em vídeo para os candidatos que as solicitaram.”
Puglia destacou também a força e o poder de realização da federação paulista. “Em meio à nova realidade que estamos vivendo, acho que o ponto a se destacar é o poder de realização da FPJudô, expresso por meio da sua equipe, capaz de empregar todos os recursos pensando no bem da comunidade. Apesar do distanciamento, a tecnologia possibilitou o avanço nos estudos e a formação de novos faixas-pretas.”
“Não tenho a menor dúvida de que cumprimos nosso papel de forma racional e equilibrada, dando a nossos filiados a oportunidade de graduar-se nesta temporada”, prosseguiu o vice-presidente da FPJudô. “A maioria deles são vestibulandos e não poderiam quebrar este ciclo, deixando o exame para o próximo ano. Contemplados com aprendizado e conhecimento puderam dar continuidade ao fomento do judô nas 16 delegacias regionais. Foi um ano extremamente difícil para todos, mas desempenhamos nosso papel.”
Na opinião de Puglia, a pandemia trouxe enormes dificuldades, mas é preciso tirar proveito de todas as coisas que acontecem, boas ou más. “A pandemia deixa uma mensagem para a civilização”, afirmou. “Na correria do dia a dia acabamos deixando valores verdadeiramente importantes de lado. Entendo que nós, do judô, vamos sair dessa situação muito mais fortes e até mesmo mais valorizados como professores, formadores e seres humanos. Estou certo de que em 2021 vamos voltar a trabalhar com força total para toda a comunidade do judô do Estado de São Paulo.”
O dirigente concluiu destacando a união e a sinergia existentes entre a presidência, os 16 delegados regionais e as coordenadorias de área. “Entendo que tudo isso foi fruto da coesão existente entre a presidência, delegados, diretoria técnica e os vários departamentos que compõem a federação. Pessoas abnegadas que durante os 12 meses de 2020 desenvolveram esforços no sentido de fazer com que o judô não parasse em nosso Estado.”
Atual coordenador dos exames de graduação da FPJudô, o professor kodansha Dante Kanayama lembrou que, quando era o diretor técnico da federação, criou a padronização para os exames, em parceria com os professores Massao Shinohara e Matsuo Ogawa. “Isso já faz mais de 30 anos. De lá para cá foram sendo feitas adaptações e complementações. Devido ao grande número de candidatos inscritos anualmente, nos três últimos anos fomos obrigados a recrutar um número maior de avaliadores, que hoje chegam a 80.”
Neste ano, ele entende que o processo transcorreu dentro do que se esperava. “Todos se engajaram e abraçaram um projeto inédito que atendeu plenamente às necessidades dos candidatos e da coordenação de graduação. O resultado foi o melhor possível. Houve um empenho muito grande de todos os examinadores, e conseguimos avaliar mais de 600 candidatos. Não sabemos o acontecerá daqui por diante, pois esta questão da pandemia ainda é uma incógnita para todos nós, mas neste ano partimos do zero e mesmo assim conseguimos superar todas as dificuldades.”
Sensei Kanayama concluiu destacando a grande atuação do professor Fernando Ikeda, que intermediou todas as fases do exame, comunicando-se com os professores, examinadores e membros da comissão. “O Ikeda desenvolveu um trabalho hercúleo e quero deixar aqui meu agradecimento a ele e aos demais membros da comissão técnica pelo empenho em desenvolver, acredito eu, a mais importante ação da Federação Paulista de Judô desta temporada.”
Iniciativa extremamente válida
Outro membro da equipe da FPJudô que participou ativamente da ação inédita foi o professor kodansha roku-dan (6º dan) Sérgio Barrocas Lex, palestrante, membro do conselho de ética e da comissão de graduação. “Auxiliei na área teórica e nas gravações das videoaulas na disciplina de história, filosofia, ética e terminologia, além de atuar como avaliador dos candidatos”, resumiu. Com atuação importante no fornecimento de subsídios aos candidatos, sensei Lex validou o exame virtual e possibilitou que muitos novos faixas-pretas fossem formados nesta temporada.
“Achei a iniciativa muito interessante e extremamente válida, pois criou oportunidades para muitos judocas que muitas vezes tinham limitações de tempo e distância. Entre outras coisas, ampliou a possibilidade de esses filiados se prepararem com os módulos virtuais. Um ponto importante é que a coordenação de exames da federação pôde prestigiar e valorizar os candidatos que já estavam se preparando para realizar o exame este ano”, avaliou.
“Em momentos como os que vivemos este ano é muito importante que a diretoria da federação seja sensível às inovações e, principalmente, que confie nos membros da equipe que dispõem de recursos para executar projetos fundamentados em inovação e dominem as novas tecnologias.”
As palavras de Francisco de Carvalho, presidente da FPJudô, remetem ao esforço desenvolvido pelos professores que viabilizaram a realização de reuniões de administrativas, cursos, workshops e palestras que culminaram na realização do exame de graduação.
“Assim sendo, rendo minha homenagem ao grupo liderado pelo professor Fernando Ikeda, que em sintonia com os professores Marco Aurélio Uchida, Rafael Amaro e Mário Assis colocaram a FPJudô no topo do ranking midiático do judô nacional. Sem esquecer de mencionar o trabalho dos professores Dante Kanayama, Joji Kimura, Luís Alberto, Sérgio Lex e Rioiti Uchida”, afirmou o dirigente.
Francisco de Carvalho confessou que, no começo, estava muito reticente e não admita a hipótese de realizar o exame no formato tandoku renshu. “O resultado que esta equipe de jovens dirigentes alcançou para o judô de São Paulo foi uma surpresa extremamente positiva, promovendo grande avanço tecnológico na federação. Eles ousaram inovar na realização de provas que há mais de meio século eram feitas de forma presencial, e deu certo. Com isso, toda a comunidade foi atendida plenamente. Com certeza ainda vamos reunir o grupo este ano para poder parabenizar seus integrantes e falar da importância desta equipe na gestão da FPJudô.”
Exame de Graduação FPJudô
8 de dezembro de 2020
Por PAULO PINTO I Fotos BUDOPRESS e ARQUIVO
São Paulo – SP